quarta-feira, 4 de abril de 2007

Entrevista à professora Ana Sani – Psicóloga

Porque considera que uma prostituta já infectada com o vírus HIV e quando se encontra com o seu cliente não é sincera ao ponto de não assumir que está infectada?

Provavelmente um dos argumentos que estão na base dessa decisão é o factor económico. A prostituta não quer perder de forma alguma o cliente e o negócio e daí ter essa atitude.
A admissão da prostituição associada a uma doença grave é extremamente complexa. A prostituta não é sincera para com o cliente para e tal como referi, não perder o negócio e de forma a não ser ainda mais estigmatizada.

O que pensa que a nível social poderá ser feito para que as prostitutas tenham um comportamento e uma atitude diferente? Uma atitude no fundo de preocupação?

Nós não podemos pensar que as prostitutas vão todas para a prostituição devido a uma carência económica. Eu penso que a nível social já há algo que foi feito. Existem serviços e organismos que foram criados de forma a acompanhar a prostituta. Este tipo de iniciativas, algumas já existem, outras estão em análise… Eu penso que as nossas políticas neste âmbito não são negativas em relação a isso e desse modo, o primeiro passo já foi dado. Os centros de saúde e os hospitais têm serviços de apoio. Penso que se poderá fazer mais mas penso que algo já foi feito. Neste caso, existem sempre os prós e os contras.

Na sua óptica a prostituta deveria ser aconselhada por parte de um psicólogo ou psicóloga de forma a combater este flagelo, que é o vírus HIV, tendo em linha de conta que Portugal é o segundo país da Europa com o maior número de infectados?

Como qualquer aconselhamento, ele terá que partir da própria pessoa, não pode ser ela própria. O problema do vírus HIV não é só um problema da psicologia, mas que engloba muitas outras áreas. Na psicologia sabemos que a pessoa de nenhuma forma pode ser obrigada a fazer isto ou aquilo. O fundamental é que a prostituta não tenha vergonha em assumir que é prostituta e que procura apoio.

Na sua perspectiva o sentimento de culpa poderá igualmente recair nos clientes na medida em que uma grande maioria deles optam ao irem a uma prostituta em terem relações sexuais sem preservativo?

É óbvio que sim. As pessoas têm a livre opção de escolher se se protegem ou não. Se o próprio cliente fizer sexo sem preservativo com a prostituta e se depois posteriormente contrair o vírus HIV, é evidente que o cliente fica com a consciência pesada. Se o cliente depois de ir a prostituta e caso contraia o vírus e se depois infectar a sua mulher, estamos então perante uma situação bastante delicada.

Na sua opinião, na sociedade portuguesa, nomeadamente no ensino preparatório estão a ser tomadas medidas coerentes e uniformes para que posteriormente os jovens se protejam?

Mesmo que a maior parte das pessoas julgue ser necessário haver uma disciplina de educação sexual no ensino preparatório, a verdade é que isso politicamente não está instituído. Infelizmente, não me parece que esse seja um trabalho que esteja a ser feito por parte das escolas.

É apologista de que nessa mesma área de ensino deveria existir uma disciplina em que se abordasse sem complexos o flagelo do vírus HIV?

Sou apologista desde que as pessoas falem disto de uma forma concreta, simples e sensível uma vez que estamos a falar com adolescentes e não com adultos. Penso também que a televisão poderia focar mais esse problema de forma a que os políticos pensem seriamente em avançar com esse projecto para a frente.
Nós, psicólogos, temos a noção que muitas vezes temos que quebrar o nosso próprio sigilo e alertar as pessoas competentes na área respectiva que algo mais terá de ser feito para fazer avançar esse projecto.

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