terça-feira, 3 de abril de 2007

Entrevista Polémica

O Grupo Risco é constituído por equipa de 10 elementos que estão a trabalhar harmoniosamente, numa campanha de Prevenção e Luta Contra a SIDA. O nosso público-alvo são as prostitutas de rua, ou como preferem que lhes chamem, as “trabalhadoras do sexo”. O nosso objectivo é sensibilizar as prostitutas de rua, que exercem a sua actividade na baixa do Porto, no sentido de alterar os seus comportamentos sexuais quanto ao uso de preservativo. Daqui deve resultar uma mudança na relação deste público-alvo com os seus clientes. (sensibilizar e prevenir)
Antes de termos iniciado esta campanha, entrevistou-se algumas prostitutas de rua, das quais deixamos aqui uma das mais polémicas dessas entrevistas:

Boa tarde,

Como se chama?
Elisa

Idade?
46 anos

A sua profissão?

Dou sempre como doméstica mas faço prostituição, trabalho na rua

Escolaridade?
4ª classe

Tem filhos?

Tenho quatro filhos e dois netinhos.

E os seus filhos, estudam ou trabalham?
Estudaram e agora trabalham. Já tenho uma casada e os outros trabalham.

E normalmente como é o seu dia… Quais as suas actividades diárias?
Levanto-me ás 7h da manhã, tomo o pequeno-almoço com os meus filhos, eles vão trabalhar e depois venho para a minha vida, para aqui trabalhar até ás 18h30. Como aqui para o cafezinho, faço a minha vida diária todos os dias menos aos domingos de manhã e levo assim a minha vida. Ás 18h30 vou-me embora e já não venho mais.

Em que parte costuma trabalhar?
Só aqui nesta hospedaria, não saiu daqui para lado nenhum. Já trabalho aqui à 26 anos, já faço parte da mobília.

É abordada por que tipo de pessoas?
De todas as espécies. Médicos, juízes, para qualquer um que vem aqui, vem aqui de tudo, vem do mais pequeno ao maior. Vem de tudo, infelizmente aqui vem de tudo, mas a gente só sobe com aqueles que deve subir. Se for homem que a gente sabe que não deve subir, a gente não sobe, também temos um bocado de medo.

Então hà uma selecção nos clientes. Como sabe com quem deve subir?
Porque falamos primeiro com ele cá fora. Fazemos o preço, as condições, o que se faz e o que não se faz, e a gente na aragem vamos vendo quem vai na carruagem. Ás vezes também pode ser um engano, mas na aragem a gente vê e sobe.

Costuma levá-los para onde?
Pó quarto aqui por cima, na hospedaria.

Têm algum tipo de acordo com o dono da hospedaria?
Não. Sempre que subimos pagamos o quarto, 4 euros, o resto que o cliente der é nosso.

E os preços?
Depende. Umas vezes, pedimos 20 euros, outros 15 euros outros pede 25 euros. Depende da maneira que a gente olha para eles e lhes vê a carteira.


Como sabe com quem deve ou não subir?
A gente convida o homem. O homem passa e a gente manda com aquelas bocas para eles. Perguntam o preço e a gente se agradar agradou se não agradou vem embora.

E normalmente qual é o serviço que mais lhe pedem para fazer?
Actualmente é o apito anal. Costumam pedir, mas eu não faço isso. Vou ser sincera com a menina...eu chupo e fodo, só mais nada. Até os casais próprios fazem isso e eu tenho medo, nem me puxa para fazer isso. Ás vezes oferecem mais dinheiro e tudo mas não quero. Antes quero uma tigela de caldo do que fazer isso. Bem hoje em dia também não sei o que lhe hei-de chegar mas mais tarde não quer dizer que não o venha a fazer isso... não sei. Depende das dificuldades que eu possa vir a passar não é?

Quando os seus clientes querem ter relações sexuais sem preservativo aceita ou recusa?
Aceito. Aceito filha. Tou na mão de Deus. Antigamente era a tuberculose agora é a Sida. A gente não sabe o que fazer. Temos que nos desamerdar com isto. Oferecer preservativos só se for.

Mas com as doenças transmissíveis com o acto sexual, que hoje em dia existem… Não tem medo?
Não, não a gente é vigiada pelo médico, não há que ter medo.

E faz exames médicos? De quanto em quanto tempo?
De 6 em 6 meses. Sou doadora de sangue ali no Santo António. De 6 em 6 meses vou lá tirar sangue. Aproveito e tiro as análises a tudo. Tanto que vou lá tratar da minha boca. Tou á espera para ser operada.

Caso esteja doente ou infectada por algum vírus, informa o seu cliente?
A gente quando sente assim alguma reacção de saúde ou uma infecção urinária ou assim a gente vai na mesma. É.. .a água lava tudo. Não á nada como o natural.

Como devo tratar as pessoas que a recorrem? Clientes?
É é clientes e nós somos o comércio. Só não pagamos é impostos. Mas havíamos de pagar. Haviam de por legal. Haviam de por isto legal. Antigamente a gente vamos a um hospital e dizem assim: qual é a sua profissão? A gente diz sou doméstica. Se a gente disser que fazemos prostituição a gente somos discriminadas. E se a gente tivesse uma coisa, se fizéssemos os nossos descontos para mais tarde para uma caixa para uma velhice.. a gente mais tarde dizia assim vou para casa mas ganhei a minha reforma. A gente vinha aqui. Se a gente não tem uma reforma... um bocadinho de lado como é que a gente vai sobreviver?

Então acha que devia haver casas legais para estes actos?
Sim casas legalizadas. Haviam de haver como antigamente. Eu sou desse tempo, do livro. A gente ia á fiscalização todas as semanas.

Como devíamos agora mudar isso? Acha que é o Estado a tratar disso, a população, as senhoras?
Menina olhe aqui á uns tempos, um espaço pessoa aqui em cima que foi organizado por nós, a primeira mulher a fazer a entrevista fui eu. Falei com o presidente quando ele foi ali. Fui a primeira mulher a dar a entrevista. Pedi-le a ele para por legal, porque é uma coisa boa. Porque se o cliente for a uma casa a gente escolhe, nós temos conforto, temos agasalho, temos qualidades para atender os nossos clientes, enquanto aqui não. A gente chega aqui e faz o que temos a fazer e vai embora. Nós tamos aqui á chuva e ao frio já percebeu? Ao fim e ao cabo quem ganha mais são eles (clientes) não somos nós. Já percebeu? Porque nós vamos com os homens em cima de nós mas ao fim e ao cabo ao final da noite ele é que não tem trabalho nenhum. É só pagar a água a luz e a renda e o resto é tudo dele…mas tá com conforto, tem agasalho não apanha chuva, não apanha frio por enquanto que nós aqui tamos a isso, sujeitas a tudo.

Há pessoas que concordam realmente com estas casas para haver mais controle mas outras que não…
Mas haviam de legalizar. Antigamente fugíamos á polícia, muitas vezes íamos á esquadra.

E agora quando à rusgas policiais, o que acontece?
Agora já não há nada disso. Eles passam por nós e até nos cumprimentam. Nem nos pedem identificação aqui na porta. Antigamente havia. Se tivemos encostadas, se os víssemos havia, o que eles queria era respeito. Mas se nos apanhassem-nos íamos pá esquadra duas ou três horas ali seguidas sem fazer nada. O meu cadastro está cheinho ali na primeira.

Mas se algum dia lhe dizem que tem que ir para a esquadra, o que faz?
Não vou. Não tenho nada que ir. Então se não levam as romenas nem as outras que andam aqui ilegais, porque é que eu tenho que ir. Não tem nada que me levar. Eu não tou aqui a roubar ou a matar porque é que eu tenho que ir, não vou.

Tal como disse há muitas meninas romenas e de outras nacionalidades. Existe algum tipo de rivalidade entre vocês?
Rivalidade não, porque elas levam mais caras que nós. Levam 35euros. Por serem estrangeiras se calhar pedem mais. Mas o que é nacional é bom não é? Estragam-nos a vida tá a ver??

Não têm conflitos mesmo assim?
Não cada qual no seu canto. Cada macaco no seu galho.

Há zonas já distribuídas entre vocês?
Sim, esta aqui é a mina zona. Se vier alguma nova eu corro-a. Vai lá para baixo ou para cima. Aqui á nossa beira não.

Há um código então a seguir?
Não é nada. Nós tamos aqui mulheres antigas, não é, e uma senhora tá ali até com 67 anos e logicamente se o cliente vir uma nova, procura a nova e não procura a antiga né?! eu não falo por mim né?! falo pelas mais antigas né?! Pouco ou muito vou ganhando né?! mas as mais antigas não ganham. E a gente então tem que ter consideração pelas pessoas, as antigas, são seres humanos né?! prontos...a rede quando vier vem para todas, né?! é tudo no canil.

Mas o que acontece se por acaso algum dia chega á sua zona e encontra uma menina que por acaso até é mais jovem?
Não acontece nada, mando-a para baixo. Pá pensão pode vir, pois a pensão é de todas, agora á nossa beira é que não. O cliente se tiver que a ir buscá-la vai buscá-la na mesma e ai já não temos nada que falar, agora á nossa beira é que não.


E os seus clientes. São pessoas conhecidas, fixas ou desconhecidos?
Ai tenho muitos amigos, muitos… que me telefonam a dizer que vêm, tenho tenho muitos amigos.

Normalmente as pessoas pensam que os clientes são sempre desconhecidos que param por momentos… não. Há muitos clientes… até vou contar uma história menina, isto é verídico pela alma do meu pai, que me morreu á 6 meses. Eu tenho um cliente meu, que quando a mulher em casa se chateava com ele, ele dizia que vinha ter com a Elisa. A mulher segui-o até aqui nesse dia á noite, no quarto. Eu é que vinha antigamente á noite, mas o meu pai morreu á 6 meses e deixei de vir, e o senhor veio ter comigo. Viu-o a sair do quarto aqui da pensão dirigiu-se a mim com a fotografia dele e perguntou-me se o conhecia aquele senhor, e eu disse que sim que era o meu cliente. E ela disse-me, sabe que esse senhor é casado? E eu disse oh minha senhora se ele é casado, ou solteiro o problema já é dele eu não tenho nada a ver, e ele não traz letreiro. Eu estou na minha vida quem me procurou foi ele e não fui eu. Pagou pelo acto que eu fiz. Ele foi á sua vida e eu fiquei na minha. Disse ela, mas a menina usa preservativo? E eu disse á senhora, que lhe interessa á senhora, se uso preservativo ou não? Se tá com curiosidade de saber pergunte-lhe a ele, eu disse mesmo isso a ela, a saber que ela era a esposa dele. Tá a perceber e ela sabe o que me disse a mim? Para usar a camisinha com ele para ficar descansada. Antes que soubesse que fosse comigo do que com uma que fosse drogada. E hoje é um grande amigo meu. Telefona-me a dizer que ele que vem cá e tudo.

Alguma vez se apaixonou por algum dos seus clientes?
Não não nunca. Nem dá para isso. Não que eu tenho homem. Por amor de Deus. Tenho o homem da minha vida.

E como reage o seu marido a isto?
O meu homem era também meu cliente, é pai dos meus filhos mais novos, tenho um com 20 e 19 dele.

Mas é casada?
Não, sou divorciada. Divido com ele cama e mesa, 26 anos. Já tenho uma filha com 30 anos, não é brincadeira. Fui mãe aos 15. Mas não me arrependo!

Não passou dificuldades nessa altura?
Não, não. Há sempre uma sopa, uma tigela de sopa.

E como reage a sua família a sua profissão? Sabem?
Tudo me apoiou. Ao principio, prontos foi um choque. O meu pai antes de morrer e tudo, coitado a vontade dele era que eu saísse daqui. Que ele dizia mesmo. Você vai levar a minha filha ao matadouro, vai levar a minha filha ao matadouro, mas prontos, era daqui que eu vivia e foi daqui que criei os meus filhos, mas prontos, o dia á dia, ganha-se mais hoje ganha-se mais amanhã, ganha-se, guarda-se um bocado pós outros, não é para aqueles dias que não há e vamos comendo e vivendo. Já se criou, já tenho os meus filhos criados.

Não pensa sair deste tipo de vida?
Penso, mais três aninhos, que ainda me faz falta só para sair daqui só.

Mas porquê aos 50?
Aos 50, fiz promessa que aos 50 que eu saio, porque é a altura exacta para eu sair.

Acha que é uma pessoa informada no sentido de saber todo o tipo de doenças que pode estar exposta?
Sei filha. Sou informada nisso. Sou doadora de sangue o hospital para no hospital me explicar isso.

Mas fala com o seu médico sobre isso?
Falo, falo, ele pergunta-me porque eu não uso o preservativo e eu digo-lhe que eu não me ajeito com isso. Não me ajeito, sou alérgica ás «camisas», sou alérgica porque é assim, antigamente as meninas diziam que a tuberculose se apegava e a gente nunca morreu com a tuberculose. Só morre quem não tem cuidado, não é? Assim a gente sabe lá de que maneira é contaminada não é?

Sabe como a Sida é transmitida?
Sim através dos actos sexuais não é? E contacto do sangue não é? Ó menina se vamos a pensar assim já tínhamos morrido. Tá tudo na mão de Deus.

A senhora entende que pertence a um grupo de risco exposta a maiores perigos que o resto das pessoas?
Tou em risco, mas é como lhe digo á menina, estou na mão de Deus.

Mas como as doenças não têm cara a senhora não sabe ao certo quem pode estar contaminado?
Lógico, ele até pode ser muito saudável por fora e estar todo podre por dentro, o meu pai dizia sempre assim. Abres uma maçã, por dentro pode estar muito bem mas por dentro pode estar podre.

Sabendo isso, porque a senhora não se protege?
Porque olhe, faço a vida que faço á 26 anos e nunca tive um esquentamento, escoramento, nunca apanhei nada disso. Também tenho higiene comigo. Chego a casa e faço a minha desinfecção que tenho a fazer e sou vigiada de 6 em 6 meses. Não é prontos, se vir aquele cliente que não devo de ir não vou mas se for aquele cliente que venha e que ás vezes pronto que a gente veja que pode subir ai a gente sobe sem preservativo á vontade, mas há muitos que pedem agora «camisa» há muitos mas se me pedem para a usar eu uso-a tá a compreender mas se não me pedirem vou á vontade. Não tenho problema nenhum.

Já viu alguma campanha sobre a sida?
Se já passou por nós?? Tantas que já houve aqui, e que aqui ficaram nas pedras da rua. Deitavam-se de manha e depois não acordavam, porque não tinham defesas nos pulmões, não comiam não bebiam, não tinham nada acabavam por ficar.

Tem alguma colega sua com sida?
Não, não tenho nenhuma aqui. Que eu saiba não.

Mas já viu alguma campanha sobre a sida na televisão?
Eu acho que isso é uma fantochada isso, só fazem reclame aos preservativos. Fazem campanha mas não fazem acto. Só pondo casas legais e vigiadas pelos médicos é que muda, por exemplo mulheres limpas de um lado mulheres que tivessem doenças não punham a trabalhar. Por exemplo tiravam análises, que tinham problemas, ó menina aqui já não entra. Não faziam nada disso.

Não acha que deveria haver uma campanha a apelar mais pelo choque ou algo?

Não, não adianta nada.

Mas gostava de ver algum tipo de campanha?
Não menina não gostava. Não fazem nada. Não fazem nada. Olhe menina temos ali um centro que tá sempre a acolher a carrinha a noite a dar preservativos e não fazem nada. Tá ali um centro para que? Só para dar cafés e preservativos á noite? Não explicam nada não ajudam nada. Uma ocasião fui lá pedir um comprimido para dormir, para dar ao meu pai que ele não tinha porque tinham acabado os comprimidos e eles nem esse comprimido me deram… a gente vai lá pedir ajuda e ele não ajudam nada. Mas fazem promessas mas não ajudam nada, que adianta tanta promessa? Só se vê obras e ninguém a trabalhar por nós. E nós somos mulheres que ganhamos rios de dinheiro, menina, melhor que ninguém. Olhe eu comprei uma casa, que comprei com papeis falsificados, porque eu não tinha nada e a agência tratou-me de tudo. Tou a pagar uma casa 50 contos por mês, custou-me 12mil contos, mas digo-lhe uma coisa se fosse por nós se fossemos legais, a gente não precisava de favores de ninguém. Nós e os nossos descontos tínhamos a legalidade que qualquer cidadão tem. Porque não fazem isso? Porque não fazem isso menina?

Mas se em vez de esse tipo de campanhas que apelam ao uso de preservativo, se tentassem apelar no sentido de mudar as mentalidades das pessoas, acha que ai já havia melhores resultados?
Olhe menina, o preservativo pode rebentar e ser igual. Mas não é por ai...as mentalidades não mudam sabe porquê, porque elas vivem para a droga. A prostituição agora é para a droga, elas fazem um cliente e depois nem querem saber dos homens só querem saber da droga. É só para a droga, umas que roubam, entram no quarto e roubam-nos. As campanhas não adiantam nada.

Não gostaria mesmo de ver uma campanha dirigida a pessoas com a mesma profissão que a sua?
Não, não. Eu gostava era de ver casa legais e por a polícia activa como antigamente… atrás das mulheres.

Mas se houvesse algum tipo de campanha, que conselhos daria para que esta campanha tivesse sucesso em alcançar pessoas com a minha profissão que a senhora?
É por o governo a por casas, a ver quem tinha e quem não tinha porque elas são todas juntas quem é que sabe que eu tenho ou a menina tem? Entra tudo para a mesma casa. O cliente hoje vai comigo e até posso estar contaminada quem é que vai adivinhar? Quem tinha que fazer isso era o estado não é mas não dá.


Sente que é discriminada? Por quem? Porquê?
Sim muito, pelo estado principalmente. Não nos ajudam em nada. Não vamos a lado nenhum com este estado.

Muitas são as histórias que se ouvem de como as pessoas vêm a para a este tipo de vida. Qual é a sua? O que levou a senhora a parar nesta vida?
É assim eu casei muito cedo, ao fim de três anos o meu marido era muito ciumento tinha ciúmes doentios. Naquele tempo não é para me gabar mas era muito bonita, e ele tinha muitos ciúmes de mim e batia-me todos os dias e a última vez que me bateu pos-me os olhos 15 dias fechados todos pretos, e eu fiz jura a mim própria que eu ia deixá-lo ficar e que nunca mais o queria, e assim foi. Depois conheci um rapazito, fui pós copos para a noite com as minhas colegas que me desencaminhavam. Havia um rapazito engravidei dele e deixou-me grávida de 5 meses, foi para a Andorra fez a vida dele e eu fiquei grávida de 5 meses que é o meu menino do meio, quando casei fiquei com a minha menina, agora que tem 30 anos e agora tenho um menino do moço com quem tava a a fazer vida que arranjei lá nessas boates comecei a trabalhar nas boates. As boites começaram a ficar fraco e uma colega que me disse.. anda para a rua que é melhor e eu vim olhe seja o que Deus quiser vamos para a frente e vim á luta.

Não se arrependeu?
Não

Nunca sofreu algum tipo de violência por parte dos seus clientes? Ou esteve numa situação muito má em que o cliente perdesse a calma?
Não, nunca, nós é que temos que saber lidar com os clientes, que nós, se a gente vir que o cliente tá a azedar a gente tenta levá-lo da melhor maneira para o tirar para fora tá a compreender menina, agora se a gente for ásperas para ele eles reagem conforme a gente reage para eles., não é. Ai é que á confusões, agora sendo meiga, sendo humildes e sérias e honestas, não á problemas nenhuns.

E já teve conhecimento de uma situação violenta que tenha ocorrido a colegas suas?
Bem, já defendi aqui muitas, já defendi aqui muitas até tive que meter as portas dentro que se queriam realizar mas não deixavam que eram pesados, e punham a mão ao pescoço e eu é que abria as portas, arrombava a porta aos gritos e tirava-os cá para fora. É verdade temos que ser umas pelas outras que é isso? Também gostava que me fizessem igual a mim. Aqui temos que ser todas unidas, uma por todas e todas por uma. Assim caso a gente esteja no quarto e ouvir alguém a gritar a gente tem que se fazer ao caminho, as portas têm um feichinho pequenino, de modo a por o pé dentro e a porta abrir que é uma segurança para elas e para mim não é prontos. O patrão nem sempre está, muitas vezes tá só a empregada e a gente tem que se juntar todas juntas.

Depois dessas confusões, informam as colegas do comportamento desse cliente?

Não a gente não tem problemas, nã. Se tiver que levar com um pau na cabeça leva, ele é que perde, ele é que entrou lá dentro, é ou não é?

E em relação ao que ganha… Tem alguém a quem prestar contas?
Aos chulos, menina?? Diga, diga não tenha medo. Não, não as coisas são de mim própria. Não filha, agora já não há nada disso. Isso era antigamente que haviam homens que punham as mulheres a trabalhar e queriam o dinheiro no final da noite.


Em relação á droga. Há muita gente que consome?
Sim há muitas… a maior parte é toxicodependente. Todas, as antigas aqui são as mais seguras, depois é tudo droga, para manter o vicio. Por causa do carro, as velhotas e assim somos antigas e aqui estamos mais seguras… agora tudo o que elas ganham é tudo para a droga. E eles para drogam são.

Para terminar, a entrevista que gostaria que algo mudasse na sua vida ou na sociedade em geral?

Para além das casas legais, que as minhas colegas saíssem todas principalmente as mais antigas. Eu como faço gosto se sair agora aos 50 gostaria que elas também saíssem. Que passasse aqui e que não visse nenhuma delas principalmente as mais antigas que são pessoas que quando sair levo no coração. São minhas amigas.

Muito obrigada!

6 comentários:

Anónimo disse...

São respostas como estas que chocam a sociedade! Sabendo dos riscos que correm ao exporem-se ao sexo sem qualquer precaução, nem têm o cuidado de se protegerem!
É por estas situações que se devem mudar as mentalidades destas mulheres que se dedicam ao sexo! Deveria de haver mais campanhas direcionadas a elas para terem noção da realidade! Parabéns pela iniciativa e Boa sorte para o Grupo Risco. Que seja o inicio de alguma mudança, por mais pequena que seja...

Anónimo disse...

Gostei da entrevista, muito bem conduzida , e tambem do blogue, muito real, e bem feito, a entrevista ta simples e directa, parabens a quem me recomendou ( Ana Rosa) e a todos que fazem parte deste projecto. Força e continuem

Xikito disse...

Por recomendação do Ricardo Salazar visitei o vosso blog. Está bastante elucidativo da realidade dos dias de hoje. Fiquei estupefacto por a entrevistada, com a profissão que tem, afirmar o não uso do preservativo, nos dias que correm é uma arma apontada à cabeça. Continuem com o bom trabalho informativo...

Áreas e movimentações disse...

Não se esqueçam do evento de quarta-feira. Vamos estar na Agência segunda, terça...há muito a fazer!!

Anónimo disse...

Antes de mais um bem haja a quem tomou esta iniciativa, pena e k ainda sejam poucos aqueles que tenham coragem de enfrentar este problema, criticao de certo, mas e um bom começo, que pessoas como Ana Rosa Almeida conduza, ou faça parte de um pequeno, mas nao menos importante projecto. Que todos nos tenhamos parte desta coragem para que este assunto deixe cada vez mais de ser tabu, e que passemos a encara-lo com respeito e muita preocupaçao, pois so assim sairemos desta "miseria" que prejudica a sociedade em geral, mas sobretudo as mulheres. Força Ana, seras o inicio de um novo rumo no combate à prustituiçao.Continuem

IBastos disse...

Dou sinceros parabéns à vossa página pois aborda um problema de sociedade actual. Tive conhecimento da v/pagina atraves de um dos membros da risco, a Ana Almeida e agradeço lhe por me ter dado a conhecer este Blog.
Força Risco!!